top of page

O rei de bermuda

Era uma vez um rei que só usava bermuda. Dentro do palácio ou em celebrações oficiais, recebendo pessoas importantes ou em seus aposentos, o rei estava sempre de calças curtas. Pelas ruas, as pessoas cochichavam. -Rei que é rei não mostra os joelhos por aí. -Que vergonha! -Onde já se viu? Se ainda fosse criança… -Que pernas feias! O rei fingia não saber dos comentários. E fizesse sol ou chuva, lá estava ele de bermuda. Nos reinos vizinhos, a vestimenta era motivo de piadas. Os nobres faziam fila para conversar com o rei só para verem com os próprios olhos se era verdade que aquele rei sempre usava bermuda. Achando-se importante, o rei empinava o nariz. Depois, mandava pregar cartazes pela cidade com retratos dele, de bermuda, é claro, ao lado do visitante. Sussurravam pelas esquinas que o rei passava o dia jogando videogame. -O dia inteiro! -Jogando e comendo pipoca. -Que rei fomos arranjar! Antes do rei de bermuda, a cidade até tinha tido sua graça. Agora, as casas estavam desbotadas. O povo quase não tinha o que comer. As pessoas viviam amontoadas, esperando algo acontecer. As notícias oficiais só mostravam o rei sorridente e sua bermuda. Comentavam sobre o bom gosto do governante e de planos que, todos sabiam, nunca sairiam do papel. Um dia, um jovem magricelo, cansado de tudo aquilo, decidiu ir procurar o rei para tirar satisfação. As coisas não podiam continuar daquele jeito, pensou: Nós passamos fome enquanto o rei come pipoca? O jovem juntou suas tralhas e se preparou. Sabendo que o rei não falava com seu povo, estava disposto a acampar na frente do palácio até ser recebido. Bateu na grande porta de madeira por três dias, até que apareceu um senhor de nariz grande que lhe perguntou o que queria. Quando soube, fechou a porta na cara do jovem dizendo que o rei estava muito ocupado para falar com ele. Mas o rapaz não desistiu. Esperou mais três dias que o rei o atendesse. Na manhã do sétimo dia, o rei apareceu no portão. Ao ver o rei, o jovem olhou-o da cabeça aos pés: coroa, cetro, bigode, manto e… bermuda. Então arregalou seus olhos e caiu na gargalhada. Caiu mesmo, rolando no chão de tanto rir. O rei bufou. Olhou para a estrada vazia e disse antes de bater a porta com força: -Saia do caminho, rapaz. Está atrapalhando a entrada das autoridades.

(c) Blog_Coisa_de_Criança, 2019.

COMPRE NA AMAZON.COM.BR PELOS LINKS NESTE BLOG E COLABORE COM COISA DE CRIANÇA.

Alguns segredos da crônica

Você conhece crônica? Escrever crônica não é fácil. É um gênero de texto que exige uma certa intimidade com as palavras e um jeito especial de ver as coisas que acontecem ao nosso redor e, ainda, ter

bottom of page